As vésperas do pontapé inicial do maior evento esportivo do mundo, estádios, aeroportos, bem como uma série de obras importantes de acesso ao evento, restam inacabadas. Aliás, conta-se nos dedos os aeroportos e estádios 100% prontos, equipados e em condições de serviço.
Não obstante as operadoras de telefonia móvel haverem tido tempo suficiente para se organizar para a Copa do Mundo de 2014, dois estádios – Arena Corinthians e Arena da Baixada – não cumpriram sequer as exigências da Fifa no que tange a disponibilidade de 4G nos estádios. Com o intuito de minimizar a falta de serviço de dados das operadoras, foi implementado sistema Wi-Fi em apenas seis dos doze estádios que sediarão os jogos do evento.
Ainda que tivéssemos internet 4G em todos os estádios, a maioria dos turistas estrangeiros não conseguiriam utilizar seus celulares, porque a faixa de frequência adotada na primeira fase do 4G, 2,5 Ghz, é divergente da maioria dos países da comunidade europeia, Estados Unidos e países asiáticos. A faixa de frequência mais utilizada no mundo, a de 700 mhz, aqui tem licitação prevista para agosto próximo.
Verdade seja dita, a Copa do Mundo atropelou o processo de evolução natural da telefonia móvel no Brasil. Em um país onde sequer o 3G foi implantado em quantidade e qualidade aceitáveis, falar de 4G soa como um escárnio à inteligência da maioria dos consumidores. Seja nas grandes, pequenas e médias cidades, ou nas áreas rurais, o sonho de consumo dos brasileiros ultimamente tem sido apenas falar ao telefone por alguns minutos sem cair a linha.
Seja como for, iniciamos a migração do 3G para o 4G concomitantemente com a migração do 2G para o 3G, que encontra-se ainda na metade do caminho. Diga-se de passagem, meio do caminho se considerarmos todo o Brasil. Em verdade, temos estados da Federação quase inteiros ainda com 2G, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste.
Tais deficiências do sistema de telefonia móvel tem suas raízes na carência de infraestrutura de telecomunicações do Brasil. A falta de backhaul e backbone (linhas de transmissão e distribuição de sinal de alta capacidade) em âmbito nacional, são os alicerces que necessitam ser construídos para que o Brasil possa de fato avançar no quesito telecomunicações efetivamente. Ressuscitada no final do governo Lula, essa era a missão da Telebrás. No entanto, tal obra de dimensão monumental, estimada em 125 bilhões de reais, jamais saiu do papel.
Nesse ambiente de incertezas encontra-se em consulta pública o leilão da faixa de 700 mhz. Estima-se que as operadoras paguem pelo acesso ao espectro de 6 a 15 bilhões de dólares. Ora, pagando-se esse valor antes de iniciar os investimentos em torres e equipamentos entre outros, qual empresa estrangeira se interessaria em participar do leilão? Como concorrer com as que já estão aqui em operação e já possuem receitas para bancar a expansão?
Tal concurso de fatos desestimula a participação de novos players, fator essencial para que haja mais competição e melhor oferta de tarifas e serviços. Enquanto o sistema de telefonia móvel for encarado como um mero instrumento de geração de caixa para o governo, continuaremos pagando as tarifas mais caras do mundo segundo, a UIT – União Internacional de Telecomunicações, em troca de um serviço de péssima qualidade.
Adriano Fachini é empresário de telecomunicações e presidente da Aerbras – Associação das Empresas de Radiocomunicação do Brasil.